domingo, 29 de dezembro de 2013

Fértil

Eu com minha mente fértil, insana e veloz
Fico pensando, pausando, pousando, chorando.
Sei do que sinto e do que vivi.
Meu amor, nosso amor se esvaindo numa noite fria de dezembro
Fluindo através das ondas de um som qualquer.
Me matas, amor, lentamente.
Coleciono versos, sozinho, na madrugada.
Palavras soltas em meio a solidão.
Um copo a mais de rum e num erro só resta um
As coisas mudam.
Me preparo para o pior.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Os três mal-amados



O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas",Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Os protestos podem ser contra você

O brasileiro se levantou contra toda essa corrupção e violência. Um senso de indignação generalizado, de já ter tolerado demais, apanhado demais.

Mas se você foi à manifestação e usa carteirinha de estudante para ter meia-entrada, mas não é estudante, você é parte do problema. Você não tem moral para reclamar da corrupção deste país. O nome disso é hipocrisia.

(Reclame mesmo assim, por favor, porque são dois problemas diferentes.)

Se você joga bituca de cigarro no chão, você trata a cidade como o seu lixo particular. Mas a cidade é de todo mundo. As ruas estão nojentas e a culpa é sua.


A manifestação é contra você.


Se você fura fila de banco, de carro etc.


A manifestação é contra você.


Ah, você é ciclista, todo orgulhoso de ser sustentável, um carro a menos, menos trânsito e CO2. Você reclama da opressão do carro, mais forte, contra a bicicleta, o mais fraco. Mas você não para no sinal. Não respeita a faixa de pedestres. Você até anda na calçada, tornando-se o opressor do pedestre.

Não se iluda: a manifestação é contra você.

Você leva o cachorro para passear e não recolhe o cocô. Ninguém admite, mas o resultado está aí: nossas calçadas são um mar de merda. Calçada não é a privada do seu totó.


A manifestação é contra você.


Você joga papel no chão, e não faltam desculpas para não fazer o que é certo. Essa merda de prefeitura que não instala lixeiras, né? Ou, saída de estádio, você toma uma cerveja e joga a lata por aí. Ah, todo mundo estava jogando. Depois vem o cara limpar. A responsabilidade não é do estado. É sua. E você, manifestante, não pode se esquivar a ela nos outros 364 dias da sua vida.


A manifestação é contra você.


Se você copia textos da internet, não indica a fonte e entrega ao professor dizendo que é de sua autoria…


A manifestação é contra você.


Você recebe qualquer benefício para você ou para outrem em troca do seu voto. Pirateia qualquer mídia, dizendo que é só para uso doméstico. Se você invés de comprar programas de computador procura por seriais na internet e meio de burlar o seu uso, faz qualquer tipo de "gato"... bingo! A manifestação é contra você.

Você não cumprimenta o porteiro. Você exagera horrivelmente no perfume e invade o nariz do outro. Você dirige bêbado. Você põe um escapamento superbarulhento na sua moto, que dá para ouvir a quarteirões de distância, incomoda todo mundo e compra um capacete que ajuda a isolar o som. Você obriga todo mundo do ônibus a ouvir a sua música. Você suborna o guarda ou qualquer outro serviço público. Ou ainda, você escreve textos como este, apontando o dedo contra delitos que já cometeu ou ainda comete, achando que dedo em riste exime você da responsabilidade.

Você é parte da violência. Você é parte da corrupção. Se você não mudar, o país não vai mudar. Mas não adianta todo mundo apenas demandar que “o poder” conserte as coisas. Quer mudar o país? Não esqueça de mudar a si mesmo, e pagar o preço da mudança, como um adulto.

Então, vai pra rua, que estava na hora. Mas não esquece: a manifestação é contra você.


*Inspirado em um texto lindo e corajoso da Duda Buarque. Retirado e adaptado do Blog do Wallace.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Safado

Seu safado,
me embucha e me deixa aqui só
pra cuidar do que é seu!
Você some feito a fumaça do cigarro
Aquele que eu fumo te esperando sentada na janela.
Você é feito a chuva de verão
É bom, mas nunca se sabe quando vem

O meu poema,
que é seu poema por dedicação
está como o nosso amor: incompleto
Eternizado nas tortas linhas daquilo que nunca foi dito


Vem que o que é teu está guardado

tuas malas estão desfeitas
os males estão feitos

Assuma teus defeitos

Pega-me de jeito
prenda-me nos teus braços
perca-se na vida,
encontra-te nas minhas ancas

Vem(?)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sonhos

Não sei se já lhe disse, mas sempre tive o sonho de ser piloto, antes era de caça da força aérea brasileira, mas descobri que tenho medo de altura quando estava em cima de uma escada. Depois comecei a assistir corrida de fórmulas 1, indy, 3, truck, stock car, etc, etc.
O auge da minha vontade foi no aniversário do ano passado quando fui com amigos ao kartódromo de Natal e corri durante meia hora, foram as melhores da minha vida, mesmo que estivesse a 60km/h aquilo ali era bom e me fazia bem, era fenomenal.
É o jeito me contentar em apostar corrida comigo mesmo num Fiesta 2003 que falha bastante. Assim como com os carros que me passam. Hoje, na Via Costeira, apostei corrida imaginária com um Kadet velho pra caramba. Na minha cabeça ele me passou pq eu estava lento, mas eu estava lento porque tinha um celta branco na minha frente apreciando a paisagem ou dormindo, sei lá.
Não imaginava que o cara do Kadet ia aceitar a corrida. Ainda mais que ia ficar atrás o tempo todo (deixa eu explicar, eu estava bem atrás e tinha trânsito: desculpa de perdedor), mas o cara deveria ser penalizado pela FIA, fui ultrapassá-lo e ele me fechou aos 120km/h. Ao final da Via Costeira um ônibus concretizou minha derrota, passou na minha frente e o Kadet se foi, assim como meu sonho de ser piloto.

Vi(r)ver

A poesia retorna, Ela nunca se vai, Nossa alma que se esvai A vida escorre pelos dedos Enquanto te/me perco. Viver cansa Te ver dói D...