terça-feira, 28 de abril de 2009

A minha dor é maior que a sua

O ser humano tem a capacidade de ver um problema, identificar sua possível causa e até conseguir uma solução. Isso é provado pela ciência há muito tempo e ninguém ousa contestar. O que ninguém até hoje consegue explicar é o motivo dos seres humanos oriundos do Brasil conseguirem reclamar tanto acerca de seus próprios problemas.

Experimente falar que está com algum problema a alguma pessoa que você sabe que passa por problemas semelhantes, veja qual sua reação quase que automática, quase sempre falando que entende aquilo que a pessoa está passando e que passa por problemas piores.

É como se encontrasse Jesus e dissesse pra ele “olha, Cara, minha chaga é maior que a sua”. Eu acho que é a forma que o senso comum encontrou de dizer algo confortante, de dizer “ta ruim? Tem gente pior que você”.

Sem contar aqueles desgraçados que utilizam-se da Lei de Morphy e dizem que se “tá ruim pode piorar”. E aí não se sabe qual o pior, aquele que diz que sente muito e até mais ou aquele que diga que sua dor é péssimas, mas que pode (vai) piorar.

Olhando por um lado mais otimista da coisa vemos que o povo brasileiro é um povo muito acolhedor, que realmente se sente comovido com a dor do outro. Difícil é lidar com aqueles que tomam para si a dor alheia e acabam piorando a situação, mesmo que de boa vontade, sem falar naquelas vizinhas fofoqueiras mesmo, aquelas que estão de olhos e ouvidos atentos para captar qualquer erro que a pessoa possa cometer para que “a rua toda possa saber quem é tal pessoa”.

Orlando tem dois filhos e trabalha na mesma fábrica de carros que João, que também tem um casal de filhos e também paga aluguel. Exatamente no mesmo dia eles foram demitidos em virtude da atual crise mundial, ambos se encontraram na saída da fábrica e disseram a mesma coisa “tenho uma péssima notícia”, o outro já responde “fui demitido”, parecem que estão na mesma; parece. “rapaz, tenho dois filhos, esposa e aluguel, como vou pagar isso tudo?”, diz Orlando. “Pior é a minha situação que minha esposa nem trabalha”, já desafia João. “Essa crise me atingiu com força, viu, parece que vou ter que me mudar pra casa da minha sogra”, Orlando pensa estar ganhando o perrengue que se formou. “Pior é meu caso, ‘omi’, minha sogra já está morando comigo e o pior ainda é que ela gasta mais álcool que meu carro que já está com busca e apreensão”. E até agora não se sabe quem ganhou o perrengue pessimista.

Olhando tudo aquilo com uma cara de curioso, Marcus, que também acabara de ser demitido e com aquilo decidiu montar uma fábrica caseira de lenços de papel e começou a vender para esse povo que só fazia chorar e da crise tirou sua fortuna.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Por Quê?


Há poucos dias um amigo me pediu para escrever em seu blog, que por acaso seria este. Acanhadamente aceitei o seu convite e comecei a me preocupar em qual seria o tema que eu trataria nas minhas linhas de pensamento. A princípio pensei em escrever algo sobre minha pesquisa acadêmica, mas depois de terminado o texto achei que não seria algo agradável de se ler em um blog. Então resolvi dissertar sobre algo agradabilíssimo, e por outro lado complicado de ser discutido.

Em um país com tamanha diversidade étnica, como seria possível haver tanto preconceito e descriminação racial e o pior, cultural? Ou seria por esse mesmo motivo que exista tal descriminação? Não falo apenas do preconceito “branco X negro”, que por si só é de grande desgosto, tendo em vista que essas etnias fizeram parte da formação desde Estado Nacional, mas o que particularmente me deixa mais revoltado, é a intolerância cultural, especialmente ao que se trata de religião.

Tenho certeza que todos os que se dispuseram a ler este texto já ouviram a máxima “o seu direito acaba quando inicia o do próximo”, será que já nos esquecemos disso, ou nunca foi realmente compreendido? Eu particularmente demorei a entender, mas o fiz. Quem nunca passou em um a praça pública ou parada de ônibus e se deparou com a desagradável presença de um indivíduo, normalmente do sexo masculino, muito bem trajado de terno e gravata, gritando a plenos pulmões trechos retirados dos Livros Sagrados? Será que somos realmente obrigados a passar por isso?

Semana passada tive a oportunidade de assistir a um documentário intitulado “O Rebeliado”. Esse filme trata de uma pequena biografia de um ex travesti que se converteu à religião evangélica e tornara-se pastor, montando assim sua própria igreja com o intuito de converter homossexuais, prostitutas e marginais à religião. Naturalmente a história da vida do protagonista é muito interessante, mas o que mais me chamou atenção é a quantidade de preconceito que ele transparece para a platéia, não somente contra os homossexuais, mas contra as religiões afro-brasileiras.

Quero deixar claro que não estou aqui com finalidade de fazer apologia a nem uma crença, pelo contrário, sou fiel defensor da idéia de que cada um tem o direito à liberdade de culto e que defenda suas perspectivas, mas não estariam abusando dessa liberdade? Qual a finalidade de forçar uma pessoa a acreditar no que você acredita? Porque punir ou castigar o próximo apenas com a justificativa de não seguir suas ideologias? Claro que esse problema é secular. Foi vivenciado pelos romanos de Constantino, pelos europeus medievais, indígenas americanos (sul-americanos e meso-ameríndios), e vivenciamos hoje, de forma sutil, mas igualmente ofensiva e criminosa.

Que orgulho tem um ser em vestir-se de armamentos e arrancar a vida de transeuntes inocentes por acreditar que sua iniciativa salvará as almas de um dito inferno. O que é o inferno? Quando será que o homem aprenderá a, de fato, respeitar o que é diferente? Ou será natural do homem ser intolerante?

Texto: Ordep The One

Imagem: www.oventilador.org


Vi(r)ver

A poesia retorna, Ela nunca se vai, Nossa alma que se esvai A vida escorre pelos dedos Enquanto te/me perco. Viver cansa Te ver dói D...